Um homem de cabelo branco, vestido de branco, com um tule de ballet (branco) por cima das calças. Seis bailarinos - que também tocam diversos instrumentos, e ainda cantam - vestidos de forma igual. Uma sala de espectáculos montada com cadeiras, mas as ditas já derrubadas no chão, e o público - muito dele de meia idade, algum até de 3.ª idade- aos pulos e gritos, isto num 2.º encore. Só podia ser um concerto de David Byrne que deitou, ontem, o Coliseu de Lisboa abaixo. Aos 57 anos, Byrne tem ainda a loucura, a originalidade, a voz e o talento que sempre o caracterizaram. Começa o concerto com um longo monólogo - apresenta-se, apresenta o álbum que escreveu com Brian Eno –Everything That Happens Will Happen Today - e que motivou a digressão que o trouxe a Lisboa, promete tocar, no menú, músicas do passado e do presente, e voltar à fala com o público mais tarde para mais informações e eventuais resultados de futebol. A partir daí, o concerto arranca meio morno – à excepção do primeiro tema, Strange Overtones- mas as coreografias dos bailarinos, estranhas e infantis, consistindo em pequenos rodopios na altura certa da música, alinhados com Byrne, ou saltos, ou trocas de pés- vão dando o toque de loucura esperado. A meio do espectáculo, com Cross-Eyed and Painless, as primeiras filas do público – na maioria as tais pessoas de meia, ou 3ª idade- parecem fartar-se de aguentar sentadas e levantam-se todas em sequência, como se possuídas pelo espírito da música de Byrne ou se estivéssemos, afinal, numa igreja Gospel. Vêem-se espasmos e cantorias, gente a contorcer-se e a aplaudir sucessivamente. Aí, a festa já não parou. Once in a Lifetime, Life is Long, Burning Down the House, alguns temas do 1ºálbum com Eno (My Life in the Bush of Ghosts) foram cantados e aplaudidos. A adoração do público motivou três encores. O grande Byrne mostrou estar em forma e o concerto valeu pelo que foi, pecando apenas pelo desejo secreto do que podia ter sido - com aquele público, aqueles músicos, aquele espaço, e aquele ambiente, mais temas dos Talking Heads (não era esperado, mas às vezes há boas surpresas) teriam sido absolutamente arrebatadores. |